Há muito, muito tempo, um velho convidou o
seu neto para ir com ele à terra mais próxima vender o burro que
tinha. Combinaram que partiriam no dia seguinte, logo pela manhã, para poderem
chegar bem cedinho ao mercado. Seguiam a pé, pois o avô achava que venderia
melhor o burro se ele chegasse com um ar pouco cansado. E assim partiram com o
avô e o menino a andarem pela estrada fora ao lado do burro.
No caminho, cruzaram-se com algumas pessoas,
que imediatamente começaram a troçar:
— Olhem aqueles é que são tolos. Têm um
burro e vão a pé. O mais estúpido dos três não é quem se esperaria. O
burro afinal não é nada burro.
O velho não gostou nada que troçassem dele e
disse ao seu neto para se sentar em cima do burro. Seguiam caminho
tranquilos quando, um pouco mais adiante, passaram por três mercadores.
—Olhem, olhem, mas o que é que temos aqui?!,
disse um deles. — Respeita os mais velhos, rapaz. Desmonta e deixa o
teu avô ir montado no burro, que já é muito velho para ir a pé. Tu, que
tens as pernas fortes e novas, é que vais sentado no burro, e o teu avô,
já velhinho, é que vai a pé?
Embora ainda não estivesse cansado de
caminhar, o velho pediu ao neto para sair e montou ele no burro. Andaram
apenas um pouco mais até passarem por algumas mulheres que também iam para
o mercado.
— Olhem este velho — disse uma
delas. — A pobrezinha da criança é que vai a pé e ele vai todo repimpado
no burro. Que pouca sorte tu tens, meu menino…
O velho sentiu-se envergonhado uma vez mais,
mas para se mostrar agradável pediu ao neto que subisse no burro.
Assim iriam os dois montados em cima dele e parariam os comentários. O
rapaz obedeceu e continuaram a viagem agora os dois montados no burro. Um pouco
mais adiante, um grupo de pessoas interpelou-os com indignação:
— Mas será que quereis matar o
burrinho? Pareceis mais capazes vós de carregar o burro do que o contrário.
O velho e rapaz desmontaram imediatamente.
Passado um bocado, quase a chegarem ao mercado, gerou-se um enorme burburinho
ao verem os dois carregando o burro atado num pau, que transportavam nos ombros
de ambos. Juntou-se uma multidão para observar a cena que achavam muito
estranha.
— Olhem estes doidos varridos. Eles é que
são os burros do burro!
O velho já estava mesmo farto e exclamou
zangado:
Do que
observo me confundo!
Por
mais que a gente tente agradar,
não
consegue tapar
a boca
do mundo.
E meu
neto, que nos sirva de lição:
É mais
tolo, quem dá ao mundo satisfação!
(Extraído de https://eurekaparentingblog.wordpress.com/2017/05/18/fabula-de-esopo-o-velho-o-menino-e-o-burro-a-minha-fabula-preferida/
acesso em 19.dez.2019.)
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