quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O VELHO, O MENINO E O BURRO


Há muito, muito tempo, um velho convidou o seu neto para ir com ele à terra mais próxima vender o burro que tinha. Combinaram que partiriam no dia seguinte, logo pela manhã, para poderem chegar bem cedinho ao mercado. Seguiam a pé, pois o avô achava que venderia melhor o burro se ele chegasse com um ar pouco cansado. E assim partiram com o avô e o menino a andarem pela estrada fora ao lado do burro.
No caminho, cruzaram-se com algumas pessoas, que imediatamente começaram a troçar:
— Olhem aqueles é que são tolos. Têm um burro e vão a pé. O mais estúpido dos três não é quem se esperaria. O burro afinal não é nada burro.
O velho não gostou nada que troçassem dele e disse ao seu neto para se sentar em cima do burro. Seguiam caminho tranquilos quando, um pouco mais adiante, passaram por três mercadores.
—Olhem, olhem, mas o que é que temos aqui?!, disse um deles. — Respeita os mais velhos, rapaz. Desmonta e deixa o teu avô ir montado no burro, que já é muito velho para ir a pé. Tu, que tens as pernas fortes e novas, é que vais sentado no burro, e o teu avô, já velhinho, é que vai a pé?
Embora ainda não estivesse cansado de caminhar, o velho pediu ao neto para sair e montou ele no burro. Andaram apenas um pouco mais até passarem por algumas mulheres que também iam para o mercado.
— Olhem este velho — disse uma delas. — A pobrezinha da criança é que vai a pé e ele vai todo repimpado no burro. Que pouca sorte tu tens, meu menino…
O velho sentiu-se envergonhado uma vez mais, mas para se mostrar agradável pediu ao neto que subisse no burro. Assim iriam os dois montados em cima dele e parariam os comentários. O rapaz obedeceu e continuaram a viagem agora os dois montados no burro. Um pouco mais adiante, um grupo de pessoas interpelou-os com indignação:
— Mas será que quereis matar o burrinho? Pareceis mais capazes vós de carregar o burro do que o contrário.
O velho e rapaz desmontaram imediatamente. Passado um bocado, quase a chegarem ao mercado, gerou-se um enorme burburinho ao verem os dois carregando o burro atado num pau, que transportavam nos ombros de ambos. Juntou-se uma multidão para observar a cena que achavam muito estranha.
— Olhem estes doidos varridos. Eles é que são os burros do burro!
O velho já estava mesmo farto e exclamou zangado:
Do que observo me confundo!
Por mais que a gente tente agradar,
não consegue tapar
a boca do mundo.
E meu neto, que nos sirva de lição:
É mais tolo, quem dá ao mundo satisfação! 


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