segunda-feira, 4 de julho de 2011

TEORIA DO CONHECIMENTO

TEORIA DO CONHECIMENTO OU EPISTEMOLOGIA
Conhecimento e método em filosofia
CONHECIMENTO
 É a busca da verdade na relação entre sujeito e objeto.
 “Dizer o que é do que é e o que não é do que não é, é verdade; dizer o que é do que não é e o que não é do que é, é falsidade” (Aristóteles)
TIPOS DE CONHECIMENTO
 Sensorial: adquirido pelos sentidos; é empírico.
 Intelectual: adquirido pelo raciocínio; é lógico-formal (abstração), conserva a imagem na mente apenas.
O PROCESSO DO CONHECIMENTO
 O homem é um animal racional, pensa.
 O pensamento conduz ao conhecimento
 Conhecer é: entender (levar para dentro, tornar-se dono do objeto conhecido) e explicar (colocar para fora; requer linguagem, discurso, logos).
TEORIA DO CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE
 Para os pré-socráticos a verdade era encontrada no kosmos (ordem) presente na physis (natureza), a qual segue uma lei.
 Heráclito e Parmênides: existe o movimento? (Stephen Jay Gould, 99% extintos).
 Para os sofistas a verdade é relativa, depende das convenções, pois “o homem é a medida de todas as coisas”. Quando se diz que algo é verdadeiro é preciso provar.
 Para Sócrates tudo possui uma essência (razão de ser) e é possível conhecê-la pelo método dialético: ironia e maiêutica.
TEORIA DO CONHECIMENTO DE PLATÃO
 Para Platão conhecer é recordar o mundo das idéias (hiperurânio), pois nascemos como um quadro já escrito;
 No mundo material, dos fenômenos vemos as sombras da verdade: as coisas mudam, mas a idéia permanece.
 As idéias (termo por ele criado) são conceitos universais.
 O mito da caverna resume sua epistemologia
 A filosofia deve conduzir o homem na passagem dos graus.
 O mundo material é sombra, o mundo real é a idéia (em termos de conhecimento).
 Há uma hierarquia nas idéias e a idéia do bem está no topo. O Bem Supremo é Deus.
 O filósofo se liberta das correntes e chega ao verdadeiro conhecimento.
 Na dimensão política, o filósofo deve ser o rei (sofocracia).
TEORIA DO CONHECIMENTO DE ARISTÓTELES
 Para Aristóteles nascemos tabula rasa.
 O processo do conhecimento é: os cinco sentidos captam o mundo, o cérebro registra e a linguagem expõe.
 Busca estabelecer a ciência como conhecimento verdadeiro, causal, superando enganos e opiniões e compreendendo o devir.
 Recusa as explicações de Platão.
 Para se compreender a realidade há que se distinguir entre: 1) substância e acidente; 2) ato e potência e 3) matéria e forma.
 Substância é a unidade interna do ser, a essência (razão é substância de homem).
 Acidente são os atributos que podem ou não ocorrer (a altura é característica acidental no homem).
 Matéria é aquilo de que algo é feito.
 Forma é aquilo que individualiza algo fazendo-o ser daquele modo determinado.
 Potência é a possibilidade de algo vir a tornar-se diferente sem deixar de ser ele mesmo.
 Ato é modo como o ser se apresenta agora.
 O devir não é ilusão e nem aparência, mas o movimento da potência se tornando ato.
 A potência se torna ato por quatro causas, chamadas causas do movimento. São elas:
 Material: aquilo de algo é feito;
 Formal: a forma que um ser tem em si;
 Eficiente: a força que faz a matéria adquirir determinada forma.
 Final: a razão desse ser existir
 Os nossos conceitos novos são devidos à dedução (do universal ao particular) ou à indução (do particular ao universal).
 Estes conceitos aristotélicos prevaleceram por 19 séculos, pois foram “cristianizados” na idade média.
 Tomás de Aquino “dogmatizou” o conhecimento fundado na fé em Deus.
CONHECIMENTO MEDIEVAL
 A fé é o paradigma
 Dogmatismo
 Autoridade divina
 Teocêntrico
 Unidade religiosa
 Objetividade / natureza
 Metafísica / Ontologia
CONHECIMENTO MODERNO
 Funda-se na razão
 Ceticismo / Dúvida
 Laicização
 Antropocêntrico
 Reforma protestante
 Subjetividade
 Epistemologia
A CIÊNCIA NA MODERNIDADE
 A ciência antiga se fazia com razão e observação e a moderna acrescenta a experimentação.
 Só é saber o que se submete às experiências.
 Ciência e técnica se unem: o saber retorna ao mundo para transformá-lo.
 Precursores: Copérnico, Galileu, Kepler e Newton.
GALILEI E A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA
 Galilei rompe com a ciência tradicional e cria a moderna concepção de ciência.
 Distinguiu os objetos próprios da religião, da filosofia e da ciência.
 Substituiu o modelo astronômico ptolomaico pelo copernicano.
 Aperfeiçoou o telescópio e descobriu que o mundo era muito diferente do que se acreditava.
 Conseqüências: uma nova visão de mundo e de ser humano. O espaço deixa de ser sagrado e torna-se mensurável.
 Não há mundo superior e inferior e nem diferença entre corpos celestes e terrestres.
 Não se busca mais as explicações divinas, mas as racionais.
 Abandona-se a dimensão religiosa e separa-se fé e razão (ciência).
 Galilei constrói uma ciência ativa (analisa a experiência pelo método indutivo-dedutivo).
 Promove a autonomia da ciência (objeto: verdades naturais) frente à religião (objeto: verdades de fé) e à filosofia (essência das coisas).
 A natureza e o homem são como uma máquina cujas leis precisam ser descobertas.
 A natureza é um livro aberto escrito em linguagem matemática.
EPISTEMOLOGIA MODERNA
 Na modernidade a física e a matemática se tornam pano de fundo da ciência.
 Busca-se um método científico que garanta certeza e verdade.
 Racionalismo, empirismo, iluminismo e positivismo apontarão métodos diferentes.
 O racionalismo limita o conhecimento à razão; O empirismo o limita à experiência sensível.
 Para os racionalistas a experiência está sujeita a enganos, a ciência se faz no intelecto.
 Para os empiristas a experiência é fundamental.
 Os racionalistas defendem que o homem pode atingir verdades universais.
 Os empiristas questionam o caráter absoluto da verdade, pois o conhecimento procede de uma realidade em transformação.
RACIONALISMO – RENÉ DESCARTES (1506-1650)
 Descartes é o pai do racionalismo e da filosofia moderna.
 Seu objetivo é alcançar um método que garanta a verdade, a certeza clara e distinta.
 O ceticismo era muito presente: duvidava-se da certeza e da verdade (Agrippa, Sanchez e Montaigne).
 Quem garante que não estamos sonhando? Ao duvidar percebe que tem certeza que está duvidando, se duvida pensa, se pensa existe.
 A partir dessa primeira certeza Descartes reconstrói todo o universo do saber.
 A essência do homem é o pensamento (res cogitans).
 Aquilo que exterioriza essa essência é o corpo (res extensa).
 A existência de Deus se demonstra pela prova ontológica. Se Deus existe Ele é perfeito, entre os atributos da perfeição está a existência, logo Deus existe.
 A garantia de que Deus existe é a certeza de que o mundo existe, pois Deus não engana. Assim, o mundo pensado coincide com o mundo real.
 Itinerário: 1º pensamento, 2º Deus e 3º mundo.
 Forte tendência em valorizar a razão, o entendimento, o intelecto.
 Nossas idéias são inatas, não sujeitas a erros pois vêm da razão e não dos sentidos.
 Descartes é fascinado por matemática e geometria, essenciais para o conhecimento verdadeiro, pois têm origem na razão a qual tem por objeto o universal e necessário.
 O racionalismo separa corpo e consciência, sendo o corpo a realidade física; e a consciência sede do recordar, do raciocinar, do conhecer e do querer.
 A mente não se submete às leis físicas e só ela é plenamente livre.
EMPIRISMO – FRANCIS BACON (1561-1626)
 Seu lema é “saber é poder”. Não o saber contemplativo, mas o instrumental (possibilita dominar a natureza).
 Principal obra: Novum organum, onde critica a lógica aristotélica, defende a supremacia da indução e denuncia as falsas noções (ídolos) que nos impedem de conhecer a realidade.
Empirismo – Francis Bacon (1561-1626)
 Ídolos da caverna: opiniões que se formam a partir de nossos sentidos. De fácil correção.
 Ídolos do foro: opiniões que se formam em nós pela linguagem e relações com os outros. De difícil correção.
 Ídolos do teatro: impostas pelas autoridades, leis e decretos. Requer reforma política e social.
 Ídolos da tribo: opiniões que decorrem de nossa natureza humana. Reforma de nossa natureza.
 Esses ídolos dificultam a investigação científica, têm de ser identificados e derrubados pela indução e pela experiência.
 Três fases do método de Bacon: análise da experiência, hipótese e verificação.
 O seu método é menos exato que o indutivo-dedutivo de Galilei, pois não recorre tanto à matemática.
EMPIRISMO – JOHN LOCKE (1632-1704)
 Quer saber qual é a essência, a origem e o alcance do conhecimento humano.
 Distingue duas origens do conhecimento:
 Sensação: modificação ocorrida na mente pelos sentidos.
 Reflexão: percepção que a mente tem daquilo que ocorre com ela.
 Nascemos tabula rasa e o conhecimento se dá pela experiência sensível. As idéias não são inatas.
Empirismo – John Locke (1632-1704)
 Só conhecemos a existência e não a essência das coisas; conhecer a substância supera os limites do nosso conhecimento.
 Nossas idéias podem ser:
 Simples: conhece as qualidades primárias (objetivas) e secundárias (subjetivas).
 Complexas: denominar e ordenar as coisas; tem validade prática, mas não cognitiva, não é objetiva.
EMPIRISMO – DAVID HUME (1711-1776)
 Radicaliza o empirismo: só os fenômenos são observáveis (fenomenismo), a essência não é experienciável.
 Não há causalidade, observamos só a sucessão dos fatos e formamos o hábito.
 Não se pode conhecer nada além das impressões; o objeto é a sua representação em impressões e não a coisa externa.
 Os objetos da razão são:
 Relações de Idéias: são as ciências da Geometria, Álgebra e Aritmética e toda a afirmação intuitiva, ex. o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados catetos. Proposições deste tipo podem descobrir-se pela simples operação do pensamento, sem dependência do que existe em alguma parte no universo.
 Questões de fato: não são indagadas da mesma maneira, nem a nossa evidência da sua verdade é de natureza semelhante à precedente. O contrário de toda a questão de fato é possível, porque jamais pode implicar uma contradição, e é concebido pela mente com a mesma facilidade e nitidez, como se fosse idêntico à realidade. Que o Sol não se levante amanhã não é uma proposição menos inteligível e não implica maior contradição do que a afirmação de que ele se levantará. Ou seja, em vão tentaríamos demonstrar a sua falsidade.
 Distingue entre impressões (percepções fortes, ex. calor) e idéias (percepções fracas, ex. idéia de calor).
 A ciência não é possível, pois se baseia na crença gerada pelo hábito, não há como se ter certeza de que o ocorrido sempre ocorrerá.
ILUMINISMO
 O iluminismo é o ápice da crença no poder da razão.
 É a confiança absoluta de que a razão seria a luz a iluminar o mundo.
 Características do iluminismo: 1. veneração á ciência; 2. confiança na razão; 3. harmonizar racionalismo e empirismo; 4. antitradicionalismo; 5. eliminação do sofrimento e da miséria; 6. propiciar a felicidade.
ILUMINISMO – IMMANUEL KANT (1724-1804)
 Kant é o maior expoente do iluminismo por examinar criteriosamente a razão.
 Racionalismo e empirismo impossibilitam a ciência: o racionalismo pelos juízos analíticos a priori e o empirismo pelos juízos sintéticos a posteriori.
 Juízos são teses, proposições, não são vivências.
 Racionalismo: idéias inatas (juízos analíticos a priori). Juízos analíticos não acrescentam nada ao conhecimento, apenas descrevem-no.
 Juízos analíticos a priori: o predicado está contido no sujeito.
 Empirismo: idéias vem da síntese de experiência em experiência (juízos sintéticos a posteriori).
 Juízos sintéticos a posteriori: o predicado não está contido no sujeito.
 Os juízos analíticos são universais e necessários e os sintéticos são particulares e contingentes.
Iluminismo – Immanuel Kant (1724-1804)
 Para que a ciência seja possível deve haver conhecimentos sintéticos que tenham a propriedade apriorística: juízos sintéticos a priori (universais e necessários independentes da experiência).
 Uma experiência bem feita basta para fundamentar uma lei, que valerá para todas as experiências passadas e futuras. Essa tornar-se-á juízo sintético a priori.
 Nem o racionalismo e nem o empirismo perceberam que o juízo sintético a priori é condição de possibilidade da ciência.
 Conhecemos apenas o fenômeno (aquilo que se manifesta a nós) e não o noúmeno (a coisa em si).
 Conhecer é uma concepção mental apriorística, onde o objeto dá a matéria e o sujeito dá a forma.
 Kant possibilita o surgimento do idealismo (acentua o sujeito cognoscente) e o positivismo (enfatiza a experiência).
POSITIVISMO – AUGUSTO COMTE (1798-1857)
 É o pai do positivismo e o fundador da sociologia.
 Afirma que a evolução do conhecimento passa por três estágios: teológico, metafísico e científico.
 A ciência reformará as instituições através da ordem e do progresso (lema positivista).
 Classifica as ciências, das mais simples ás mais complexas: matemática, astronomia, física, química, biologia e sociologia.
 Só no estágio científico, ou positivista, se atinge o conhecimento, a ciência.
 Características do positivismo:
- certeza sensível via observação sistemática e certeza metódica;
- relacionar fenômenos observados;
- buscar relações, leis, entre os fenômenos;
- prever e controlar os fenômenos.
POSITIVISMO – O CÍRCULO DE VIENA
 O positivismo teve seguidores no mundo todo e entre eles destaca-se o Círculo de Viena (reavia o entusiasmo cientificista do positivismo).
 Busca analisar e clarificar o discurso científico estabelecendo as condições de sua legitimidade.
 À filosofia cabe analisar a lógica e a linguagem científicas, demarcando os critérios que distinguem os enunciados científicos dos não científicos.
 O critério de demarcação é o princípio de verificabilidade: a ocorrência confere veracidade à proposição.
 Só é verdadeiro aquilo que se possa verificar e descrever, o experienciável.
 Filosofia e metafísica são asserções não-verificáveis e, portanto, sem sentido.
 Só as ciências naturais têm o status, a prerrogativa de conhecimento do real.
POSITIVISMO – CÍRCULO DE VIENA – KARL POPPER (1912-1994).
 Inicialmente concorda com o Círculo de Viena, mas depois se opõe e propõe o critério de refutabilidade empírica.
 A ciência será verdadeira se resistir à refutação ou falsificabilidade.
 Só será ciência a teoria, ou a hipótese, que mesmo sendo falsificável (desmentida, contradita, confrontável), resiste.
A RACIONALIDADE INSTRUMENTAL (TEORIA CRÍTICA)
 Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer e Habermas): criticam a Razão Instrumental.
 Crítica da razão “iluminista”:
- pretensão de domínio sobre a natureza.
- promessa de emancipação e progresso.
- razão “cega” quanto aos fins.
 Conhecimento (ciência) como instrumento de dominação e exploração (instrumentalização da razão).
A racionalidade instrumental (teoria crítica)
 Assimilação dos indivíduos pelo sistema capitalista:
- deturpação das consciências.
- desumanização.
 Acesso aos objetos técnico-tecnológicos, mas não ao conhecimento.
 Confusão entre progresso técnico-científico e progresso da humanidade com recaídas na barbárie.
 Habermas: retoma a razão iluminista em novas bases (“razão comunicativa”).