segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O problema estético

ESTÉTICA - O belo e a experiência estética.

A ESTÉTICA ANTIGA, MEDIEVAL E MODERNA
A arte é...
 Aisthetike (αισθητική): percepção, sensação.
 Expressão de conhecimento.
 Uma visão de mundo.
 Não é apenas emoção, mas conhecimento dificilmente traduzível em outra linguagem.
O que estudar?
 A natureza e a função da arte.
 Sua relação com a moral, a educação e a política.
 As concepções de estética.
 Os fundamentos da estética.
Arte e conhecimento do mundo
 Mito, filosofia, ciência e arte são modos de organizar a experiência no mundo.
 O mito se funda na fantasia.
 A filosofia se funda na razão.
 A ciência se funda em leis.
 A arte se funda na criação e no símbolo.
Características da arte
 Conhecimento imediato, concreto, individual, transmissível, intuitivo, imaginativo, sensível, simbólico e criativo.
 Transmite um sentido percebido, mas não se reduz à explicação verbal.

Arte e educação
 A arte educa a sensibilidade.
 A educação artística de uma sociedade depende do seu convívio com a arte: museus, galerias, teatros, templos...
 É preciso afinar a sensibilidade para as nuances, sutilezas e estilos que permitirá a descoberta da riqueza do belo e da arte.

A arte enquanto crítica
 A arte pode ser crítica, resistente, engajada e comprometida com a conscientização do homem, sobretudo em tempos que o poder oprime.
 Manifestações artísticas costumam acontecer como expressão de enfrentamento e oposição, ou o seu contrário.
Platão e a arte
 Foi o primeiro a pensar nesta questão e para ele a arte não era autônoma, mas ligada à metafísica e à moral.
 Busca o seu valor de verdade: aproxima ou afasta o homem da verdade? Torna-o melhor ou pior?
 Conclui que arte, exceto a música, esconde a verdade, é mentirosa, corrompe e deseduca o homem.

Platão e a arte
 Considera a poesia inferior à filosofia, por não saber explicar e nem ensinar aquilo que faz.
 No Fedro Platão define a arte como divino entusiasmo (repleto de Deus), fruto do amor que impele a alma à imortalidade. A alma procura gerar e procriar o belo.
 Na República a arte é mimesis (imitação), subordinada à moral. Só se deve favorecer a arte útil à educação (música, sobretudo).
Platão e a arte
 A tragédia (canto do bode) e a comédia (fuga da ordem) servem mais para corromper do que para educar, pois afastam da verdade.
 Motivos: 1) deuses e heróis sujeitos à baixezas; 2) exprime a aparência e não a realidade; 3) funda-se no sentimento e na fantasia e não na razão; agita as paixões.
 Só a música deve ser cultivada, pois dá harmonia interior e educa para o belo.
Aristóteles e a arte
 A arte tem dupla função, pedagógica e catártica: complementam o que a natureza não terminou.
 Tragédia e comédia, aprovadas por Aristóteles têm função catártica, purificam das paixões (extravasar).
 Aquilo que se vive na ficção descarrega a passionalidade acumulada sem ocorrer na realidade e a alma readquire a serenidade.
Aristóteles e a arte
 Obras aristotélicas de estética: Retórica e Poética.
 Definição: belo é um bem que agrada. É um prazer proporcionado pelas faculdades cognitivas, através da ordem, da simetria e da determinação.
 Há dois tipos de arte (téchne): mecânicas (artesanato) e imitativa (belas-artes).
 A imitativa não tem o sentido pejorativo platônico.
Concepções estéticas – o naturalismo grego
 Reproduzir a natureza da forma mais real possível. Imagens com aparência da realidade (Apeles: o cavalo; Parrásio: as uvas).
 Se divide em duas tendências: realismo e idealismo.
 Realismo: mostrar o mundo como ele é.
 Idealismo: mostrar o mundo como deveria ser.
Concepções estéticas – o naturalismo grego
 Na Grécia antiga a arte estava em toda parte: vasos, copos, pratos, palácios, etc., e o artista era um trabalhador comum, desconhecido.
 O naturalismo foi revigorado na renascença e teve o seu declínio com o impressionismo em meados do século XIX.
 O surgimento da fotografia fez os pintores repensarem a função da arte como representação.
A estética medieval: sagrada e estilizada
 A arte não progrediu muito, pois era vista como atividade pagã.
 Os poucos avanços foram com fins didáticos de evangelização (expressar a religião).
 Na arte medieval a beleza não tem valor em si, mas resplandece a verdade no símbolo, como possibilidade de se alcançar a natureza divina.
 Beleza é uma dimensão do bem; beleza e bondade são idênticas, sendo a beleza o aspecto agradável da bondade.
O naturalismo renascentista
 O trabalho do artista é valorizado, elevado à categoria de ocupação intelectual.
 Princípios estéticos renascentistas
1 – A arte é parte do conhecimento
2 – Imita a natureza auxiliando a ciência
3 – Visa a melhoria moral da sociedade
4 – A beleza é objetiva: ordem, harmonia e proporção
5 – A arte antiga é referência e ideal
6 – As regras artísticas são racionais

A ESTÉTICA NA MODERNIDADE
O acaso do naturalismo
 No século XVIII inicia-se uma revolução na estética: a finalidade da arte é ela mesma.
 A essência da arte não é representar o mundo e nem defender ou promover valores, mas promover a experiência estética.
 Aversão à sistematização da arte e descrença na possibilidade de definição do belo em si.
O acaso do naturalismo
 Valoriza-se o feito artístico: a obra de arte tem sentido em si e não por representar a realidade exterior; ela é realidade em si.
 O naturalismo permaneceu na mídia a serviço da ideologia dominante.
 A programação cria, deliberada ou subliminarmente, uma realidade virtual, como se fosse a real.
 Vemos uma realidade manipulada que não incomoda, questiona ou perturba.
Iluminismo e academismo: a estética normativa
 A estética neoclássica tem suas raízes em Descartes.
 A clareza e a certeza migraram para o campo da arte.
 Axioma do fazer artístico: a arte imita a natureza (identifica-se o “seguir a natureza” com o “seguir a razão”).
 Surge o academismo ou arte normativa: regras para o artista com pouco espaço para a originalidade, a criatividade e a intuição.

A NOVA CONCEPÇÃO DE ESTÉTICA
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762)
 Introduziu pela primeira vez o termo “estética” (ciência do conhecimento sensorial e apreensão do belo, expressa nas imagens da arte, em contraposição à lógica)
 Não é o fundador da estética como ciência, mas o termo por ele introduzido no campo filosófico respondia às necessidades da investigação nesta esfera do saber, e alcançou ampla difusão.
 Tratando do conhecimento sensível, o interpretou ao modo de Descartes, como um estágio inferior, ao modo de idéia confusa.
 Baumgarten tem o mérito de haver tratado em separado o sentimento da apreciação da arte e do belo em geral, enquadrando-o como um conhecimento sensível.
 Criou o nome da disciplina Estética a partir do substantivo Aisthetike (αισθητική) = sensação.
 Usa primeiramente o termo em obra de 1735, fazendo-o título de livro em 1750. Sobre a arte estabeleceu que ela resulta da atividade intelectual e também da sensitiva; por isso a noção do belo não é uma idéia simples e distinta, como pode acontecer com as idéias mentais, mas uma idéia confusa.
 Desde Baumgarten, ganha espaço a concepção subjetiva do belo, como algo resultante da obra do homem, não sendo mais uma propriedade simplesmente objetiva das coisas. Para a ontologia tradicional, o belo é, pelo contrário, uma propriedade objetiva do ente, enquanto visto como perfeição.
 Kant utilizou livros de Baumgarten como texto de aula. Aproveitou, entretanto, o termo Estética, como denominação para o estudo gnosiológico da sensação e de suas formas apriorísticas de espaço e tempo, o que denominou Estética transcendental.
 Distingue na arte: fim (utilidade) e finalidade (o prazer provocado pela beleza).
Kant e a crítica do juízo estético
 Distingue j. estét. de j. sobre as formas de prazer e o de utilidade e bondade.
 “Belo é o que agrada, não importa o conceito”.
 Divide a beleza em: b. livre (s/ conceito de perfeição e uso; tipo surreal, abstrato) e b. dependente (c/ conc. perf. e uso; realismo).
 Os j. estét. independem de j. de moralidade, de utilidade ou de prazer dos sentidos (= prazer desinteressado).
 Ao objeto de satisfação chamamos belo.
 Ocupa-se de modo sistêmico com o estético.

A estética romântica
 Como reação ao classicismo e neoclassicismo, floresceu (meados séc. XVIII até meados XIX) a arte romântica.
 Expressando sentimentos e emoções, prioriza subjetividade e a liberdade.
 Dá vazão à genialidade, imaginação, originalidade, emoção, etc. (o artista nasce gênio, a genialidade é dom especial de artista).

A estética romântica
 Para a estét. rom. a imaginação é a faculdade de percepção da verdade.
 A imaginação configura a realidade não apenas revelando-a, mas criando-a mentalmente.
 As idéias românticas são traduzidas por um simbolismo.
A estética romântica
 Principais poetas: Goethe (1749-1836), Hölderlin (1770-1843), Novalis (1772-1801) e Schlegel (1772-1829).
 “O homem é um deus quando sonha e um mendigo quando reflete” (Hölderlin).

O pós-modernismo
 A característica hoje é a velocidade das transmissões, o predomínio das informações, a globalização, a transculturação, o consumo, a efemeridade dos produtos (obsolescência planejada e obsolescência perceptiva).
 Há também a preocupação com o planeta, o meio ambiente, a qualidade de vida, a qual entrou na arquitetura e está chegando ao teatro, cinema, dança, etc.
 A estética pós-moderna se caracteriza pela desconstrução das formas, linhas, ritmos e tons, a multiplicidade de estilos, a valorização da cultura local e a ruptura, na esteira do modernismo, com a tradição artística acadêmica, universalista, racionalista e sistêmica.