CIÊNCIA E TÉCNICA: A RAZÃO INSTRUMENTAL
A relação entre ciência e técnica
Filosofia = visão de totalidade.
Antiguidade: Teoria do conhecimento;
Modernidade: Epistemologia
Contemporaneidade: Filosofia da ciência.
Filosofia: ciência-serviço, não dominação;
A filosofia analisa os fundamentos da ciência: a) em que consiste seu conhecimento; b) qual o seu alcance; c) qual sua validade; d) qual a sua responsabilidade.
Saber e poder estão a serviço do homem? Contribuem para sua liberdade e felicidade?
Principais preocupações: (1) utilitarismo; (2) neutralidade; (3) a razão instrumental; e (4) uso empresarial e governamental.
Ciência desinteressada e utilitarismo
Modernidade => razão => conhecimento e domínio (Hoje, sustentabilidade).
Conhecimento desinteressado: valor intrínseco da ciência é sua exatidão, rigor, coerência e qualidade.
Conhecimento utilitarista: Valor extrínseco (aplicabilidade).
Qual das duas é abalizada pela filosofia? As duas, para não haver parcialidade.
Se fosse apenas pelo utilitarismo muitas teorias não existiriam.
Se não houver aplicabilidade, se não revolver problemas, pode cair na incerteza.
A ciência pura (teórica) muitas vezes resulta em práticas para as quais nem foi pensada.
A ideologia cientificista
Lado ideológico da ciência: identificá-la apenas com os resultados de suas aplicações.
Duas conseqüências: cientificismo e ilusão de neutralidade.
Cientificismo: a ciência é capaz de (1) conhecer e resolver tudo; (2) explicar sempre a realidade; (3) garantir progresso (4) construir um sistema doutrinário.
Cientificismo é o mito de tudo poder e tudo controlar.
Desprezo pela religião, filosofia, arte, intuição.
Confiança irrestrita apenas na racionalidade (combate os mitos, mas se transforma em mito).
Críticos acusam o cientificismo de destruir a natureza e oprimir o ser humano.
Para Kierkegaard, Nietzsche, Marx, Weber e a Escola de Frankfurt a formalização da razão criou um novo mito: saber é poder, só o técnico competente é capaz de decisão.
Os incompetentes devem executar tarefas planejadas e ordenadas (=tecnocracia).
A ilusão de neutralidade se funda: (1) na idéia de objetividade, (2) pesquisador independente de paixões e vontades, (3) a ciência apenas diz o que e como as coisas são, não as interpreta.
Isto é ilusório, pois o cientista escolhe seu método e define seu objeto, por influência social, política e econômica, ou seja, dentro de uma história.
Pesquisas custam caro e exigem apoio de grupos e governos (1º, 2º e 3º setores [governo, mercado, sociedade: ong’s, oscip’s]).
Domínio tecnológico é comercializado, um constrói outro compra (máquinas, remédios, equipamentos, etc.).
Suas origens podem ser militar, econômica e política, entre outras.
Maravilhas advêm de pesquisas nucleares, bacteriológicas e espaciais.
Diante de tudo isto a neutralidade da ciência não se sustenta.
A ideologia cientificista consolida a ciência como capaz de tudo conhecer e transformar, disfarçando sua origem e finalidade segundo interesses políticos e econômicos.
A razão instrumental
A transformação da ciência em ideologia se dá pela razão instrumental (ou iluminista).
Significa tornar a ciência um ato de domínio e controle sobre a natureza e a humanidade.
Para o iluminismo a razão é capaz de compreender, transformar e dominar a natureza e a sociedade.
A sociedade ficou reduzida a instrumento, meio para fins úteis vinculados ao poder.
A ciência deixa de ser acesso ao conhecimento e se torna instrumento de poder e exploração.
Quando isto ocorre a ciência deixa de ser teoria científica e vira ideologia de domínio e controle.
Ex. de t. científica tornada ideologia: Copérnico e Galileu têm de esconder suas pesquisas, pois vão contra um modelo hierárquico e perfeito; questiona a ordem e a autoridade, legitimada pelo modelo ptolomaico.
Outro ex: Spencer vincula o evolucionismo de Darwin à ordem cósmica, psíquica e social; o progresso provem da competição e concorrência. Mais apto = superior.
Ex. de teoria científica ideológica (traz no bojo o preconceito):
Os europeus, civilizados, tinham pensamento lógico-racional, evoluído, verdadeiro e superior.
Os primitivos, selvagens, pensamento pré-lógico, atrasado, falso e inferior.
Razão instrumental = conseqüência da concepção e do papel que o iluminismo atribuiu ao saber (poder).
Nunca houve tanto saber (poder, técnica, progresso), mas também nunca houve tanto desequilíbrio: má distribuição de rendas, miséria, violência, guerras, exploração do meio ambiente, individualismo, consumismo e concentração de riquezas (6% possuem 59%; 53% - de U$ 2/dia).
O uso da ciência
As descobertas científicas são aplicadas para fins não previstos (ex.: avião).
A questão ética se impõe: quem pode evitar que cientistas negociem suas criações (ex.: artefatos bélicos)?(U$ 1.12 tri U$ c/ guerras e 100bi c/ a fome).
Criam profissões, destroem ocupações, formalizam o trabalho industrial, etc.
Pode a economia ser motivo de conhecimentos científicos? A ciência tornou-se agente econômico.
A ciência uniu-se ao poder político: a tecnologia garante imperialismos e domínios.
A tecnologia pode causar desequilíbrios, explorações e dominações antiéticas.
A humanidade não intervém nas decisões de governos e empresas.
Como controlar o uso da ciência? E quem deve fazê-lo?
Crise da razão: antecedentes e auge
Kierkegaard e Nietzsche (séc. XIX) opuseram interioridade e subjetividade (existencialismo) ao sistema cognitivo objetivo e absoluto.
Para Kierkegaard, Hegel nos fez esquecer da existência e da interioridade (mutabilidade e contingência).
A existência não é regulada por leis universais e necessárias. Ela é particular e as leis do pensamento e da lógica são universais.
Para Kierkegaard o saber não é absoluto; ele recusa o projeto iluminista, a modernidade. Só a subjetividade é a verdade.
Para Nietzsche a natureza humana íntima está na vontade, vontade de poder.
A vontade de poder é alegre, criativa e forte, busca superar o comum e medíocre da ética, da religião e do conhecimento tradicional.
Para ele conhecer é interpretar, atribuir sentido e significado, mas não de modo sistêmico, absoluto, cabal, definitivo e objetivo.
À filosofia cabe desmascarar o modo como esses sentidos são atribuídos carregados de valores.
Para conhecer como os conceitos foram construídos devemos nos valer da genealogia.
Não se deve fazer de determinados conceitos verdades absolutas e eternas.
Crise da razão: antecedentes e auge
Com a genealogia se vê o que foi acrescido e excluído do conceito original (filologia), pela tradição, pela lei e pela autoridade.
O conhecimento de um objeto será sempre momentâneo, capta o estado como o objeto se manifesta.
Kant vai definir o iluminismo como a saída do homem do estado de menoridade (incapacidade de se autoguiar apenas pelo intelecto, autonomia x heteronomia).
Crise da razão: antecedentes e auge
O iluminismo combateu o mito (tradição), mas tornou-se também um mito, o mito da razão.
O saber e o poder se elevaram acima do mundo, da existência.
O mundo, a natureza passou a ser matéria manipulável.
A Escola de Frankfurt é um movimento crítico aos ideais iluministas.
Principais representantes: Adorno, Horkheimer, Marcuse, Benjamin e Eric Fromm.
Crise da razão: antecedentes e auge
Karl Krünberg fundou a Escola de Frankfurt em 1923, para revisar e inovar o marxismo.
Em 1934 os nazistas a fecharam e os pensadores se exilaram, voltando em 1950.
Desenvolveram a TEORIA CRÍTICA DA SOCIEDADE.
Há um elemento irracional dentro dos totalitarismos, da racionalidade instrumental e científica (positivista): unir ciência e técnica para dominar a natureza com fins lucrativos ou políticos (dominação).
O iluminismo julgou que a razão era capaz de compreender a realidade, mas ao perseguir o progresso tornou-se instrumental, vê apenas o que é útil e operativo.
A técnica é a essência do saber científico moderno, porém ela visa os resultados (econômicos) e não os conceitos.
Conhecimento se tornou dominação sobre a natureza e sobre os homens (simples material).
Os frankfurtianos, assim como Kierkegaard, Nietzsche, Freud e Heidegger não aderem à razão iluminista.
Eles não acreditam mais que a ciência e a tecnologia possa ser condição de emancipação individual e social.
Tais críticas não significam desprezo ou rejeição ao saber científico ou desvalorização de seus benefícios.
A mal está no descomprometimento com a vida e com o “bem viver coletivo”.
O novo iluminismo
Parece haver um choque entre sabedoria e ciência (visa produtividade, domínio, poder, posse, lucro).
A crítica que se faz ao iluminismo pode ser vista como herança do próprio iluminismo.
A verdadeira ciência deve ajudar o homem a construir o seu destino livre de tirania e superstição.
A autonomia kantiana se consegue pela crítica racional, porém nem sempre racionalidade significa humanismo.
Humano é solidariedade, tolerância, afetividade, diálogo e boa convivência.
A razão que tem fins e meios definidos em função de interesses de classes é uma visão parcial, equivocada e instrumental da razão.
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